Na última terça-feira de agosto, dia 30, o Grêmio deu mais um passo preocupante em sua trajetória na Série B do Campeonato Brasileiro. Em um jogo fora de casa, o time comandado por Roger Machado foi derrotado pelo Criciúma por 2×0, em uma partida que escancarou os problemas técnicos e emocionais da equipe. O resultado foi sentido como um verdadeiro balde de água fria, até mesmo pelos torcedores mais otimistas.
A derrota não foi um fato isolado. Na verdade, ela representou a quarta partida consecutiva sem vitória, algo que até então parecia improvável, especialmente considerando o bom momento que o clube viveu nas rodadas anteriores. Com a derrota em Santa Catarina, o Tricolor dos Pampas viu não apenas sua invencibilidade ruir, mas também o sonho do acesso à Série A ficar cada vez mais ameaçado.
De 17 jogos invictos para 4 partidas sem vencer
Durante boa parte da competição, o Grêmio sustentou uma das campanhas mais sólidas da Série B. Foram 17 jogos de invencibilidade, marca que empolgou a torcida e alimentou a expectativa de um retorno tranquilo à elite do futebol brasileiro. Porém, esse bom desempenho ficou para trás. A dura sequência negativa não apenas interrompeu o embalo, como também jogou o clube em uma espiral de insegurança, tanto dentro quanto fora de campo.
A sequência sem vitórias foi suficiente para colocar em risco o tão disputado quarto lugar na tabela. O Grêmio ainda se mantém dentro do G4, mas o alerta está ligado: a diferença que antes era confortável, agora é mínima. A gordura acumulada foi queimada rapidamente, e o clube viu os adversários diretos se aproximarem perigosamente.
Queda de rendimento e pressão interna
Atualmente com 44 pontos, o Grêmio ocupa a 4ª posição na tabela, ficando atrás de Vasco da Gama (45 pontos), Bahia (47 pontos) e do líder Cruzeiro (58 pontos), este último praticamente garantido na Série A de 2023. A grande preocupação está no retrovisor: Londrina, com 41 pontos, e Sport, com 40, estão colados no G4, vindo de duas vitórias consecutivas cada um e vivendo um momento claramente mais positivo do que o tricolor gaúcho.
Se antes o Grêmio chegou a abrir 10 pontos de vantagem sobre o 5° colocado, agora essa diferença caiu para apenas três pontos, colocando o time sob intensa pressão. Com 11 rodadas restantes, qualquer tropeço pode ser fatal para as pretensões do clube.
O torcedor, que viveu anos de glórias recentes com títulos importantes como a Libertadores de 2017 e a Copa do Brasil de 2016, hoje se vê imerso em um cenário de incertezas, frustrações e cobranças intensas. A Série B, considerada uma passagem curta, já se mostra uma batalha muito mais complexa do que o previsto.
Ambiente pesado no vestiário e críticas à diretoria
Nos bastidores, o ambiente também não é dos mais leves. A sequência de maus resultados acirrou as críticas à comissão técnica e à diretoria. O técnico Roger Machado passou a ser questionado por suas escolhas táticas, especialmente pela dificuldade da equipe em criar jogadas e manter consistência ofensiva. A falta de alternativas no banco, somada à dependência de jogadores lesionados ou em má fase, agrava ainda mais o cenário.
A diretoria, por sua vez, é cobrada por não ter reforçado o elenco como deveria na janela de transferências. Muitas das contratações feitas no meio do ano não renderam o esperado, enquanto rivais diretos como o Londrina e o Sport se movimentaram com mais inteligência e apresentaram crescimento visível na reta final.
Torcida pede um ‘milagre’ para manter o G4
A torcida, sempre apaixonada, agora se divide entre os que ainda acreditam em uma retomada e os que já começam a duvidar da capacidade do time de se manter entre os quatro primeiros. Nas redes sociais, frases como “só um milagre salva” e “estão entregando o acesso” são cada vez mais comuns, refletindo a angústia do torcedor gremista diante do desempenho recente.
Com a moral abalada, o Grêmio precisa encontrar forças internas para reagir nas próximas rodadas. O time ainda depende apenas de si para garantir o acesso, mas a margem de erro é cada vez menor. Perder pontos em casa, contra adversários diretos ou considerados mais fracos, pode ser o ponto de virada – para o bem ou para o mal.
Projeções para as 11 rodadas finais
A matemática da Série B começa a pesar. Segundo projeções de especialistas em estatísticas do futebol, são necessários cerca de 62 a 64 pontos para garantir o acesso. Com 44 pontos atualmente, o Grêmio precisa somar entre 18 e 20 pontos nas próximas 11 rodadas – ou seja, vencer pelo menos 6 dos 11 jogos restantes.
Se mantiver o desempenho atual, o time corre sério risco de ser ultrapassado por Londrina, Sport ou até mesmo Sampaio Corrêa, que corre por fora. A sequência de jogos do Grêmio também não favorece: há confrontos diretos contra rivais do G4 e partidas fora de casa contra equipes que ainda lutam contra o rebaixamento – o que costuma ser armadilha na Série B.
A importância de uma reação imediata
Para evitar que o sonho do retorno à elite vire um novo pesadelo, é fundamental que o Grêmio reencontre o caminho das vitórias já nas próximas rodadas. Um novo tropeço pode colocar o time fora do G4 pela primeira vez desde o início da competição, aumentando ainda mais a pressão sobre jogadores, comissão e diretoria.
A missão não será fácil, mas também não é impossível. O Grêmio ainda conta com jogadores experientes no elenco, tem uma base sólida defensivamente e uma torcida que, apesar das críticas, segue apoiando nos estádios. A chave pode estar em recuperar a confiança, ajustar o sistema ofensivo e controlar melhor a ansiedade nos momentos decisivos das partidas.
Um campeonato traiçoeiro
A Série B é, por natureza, um campeonato traiçoeiro. Não basta ter camisa, torcida ou estrutura. É preciso regularidade, capacidade de adaptação e resistência emocional para lidar com os altos e baixos de uma competição longa e intensa. O Grêmio já provou que tem condições de disputar o acesso. O desafio agora é manter o foco, ignorar as pressões externas e voltar a vencer antes que seja tarde demais.
Se não houver reação imediata, o clube corre o risco real de repetir o erro de outros gigantes que não conseguiram retornar à Série A na primeira tentativa e ficaram anos “presos” na Série B, como Vasco, Cruzeiro e até o próprio Bahia em temporadas anteriores.